"Está bem... façamos de conta
Façamos de conta que nada aconteceu no Freeport. Que não houveinvulgaridades no processo de licenciamento e que despachos ministeriais atrês dias do fim de um governo são coisa normal. Que não houve tios e primosa falar para sobrinhas e sobrinhos e a referir montantes de milhões (contos,libras, euros?).
Façamos de conta que a Universidade que licenciou José Sócrates não estáfechada no meio de um caso de polícia com arguidos e tudo.
Façamos de conta que José Sócrates sabe mesmo falar Inglês.
Façamos de conta que é de aceitar a tese do professor Freitas do Amaral deque, pelo que sabe, no Freeport está tudo bem e é em termos quid jurisirrepreensível..
Façamos de conta que aceitamos o mestrado em Gestão com que na mesmaentrevista Freitas do Amaral distinguiu o primeiro-ministro e façamos deconta que não é absurdo colocá-lo numa das "melhores posições no Mundo" paraenfrentar a crise devido aos prodígios académicos que Freitas do Amaral lhereconheceu.
Façamos de conta que, como o afirma o professor Correia de Campos, tudo istonão passa de uma invenção dos média.
Façamos de conta que o "Magalhães" é a sério e que nunca houvealunos/figurantes contratados para encenar acções de propaganda do Governosobre a educação.
Façamos de conta que a OCDE se pronunciou sobre a educação em Portugalconsiderando-a do melhor que há no Mundo.
Façamos de conta que Jorge Coelho nunca disse que "quem se mete com o PSleva".
Façamos de conta que Augusto Santos Silva nunca disse que do que gostavamesmo era de "malhar na Direita" (acho que Klaus Barbie disse o mesmo daEsquerda).
Façamos de conta que o director do Sol não declarou que teve pressões eameaças de represálias económicas se publicasse reportagens sobre oFreeport.
Façamos de conta que o ministro da Presidência Pedro Silva Pereira não metelefonou a tentar saber por "onde é que eu ia começar" a entrevista que lhefiz sobre o Freeport e nãome voltou a telefonar pouco antes da entrevista a dizer que queria sertratado por ministro e sem confianças de natureza pessoal.
Façamos de conta que Edmundo Pedro não está preocupado com a "falta deliberdade". E Manuel Alegre também.
Façamos de conta que não é infinitamente ridículo e perverso comparar o CasoFreeport ao Caso Dreyfus.
Façamos de conta que não aconteceu nada com o professor Charrua e que nãohouve indagações da Polícia antes de manifestações legais de professores.
Façamos de conta que é normal a sequência de entrevistas do MinistérioPúblico e são normais e de boa prática democrática as declarações doprocurador-geral da República.
Façamos de conta que não há SIS.
Façamos de conta que o presidente da República não chamou o PGR sobre oFreeport e quando disse que isto era assunto de Estado não queria dizer nadadisso.
Façamos de conta que esta democracia está a funcionar e votemos.
Votemos, já que temos a valsa começada, e o nada há-de acabar-se como todasas coisas. Votemos Chaves, Mugabe, Castro, Eduardo dos Santos, Kabila ou oque quer que seja.
Votemos por unanimidade porque de facto não interessa.
A continuar assim, é só a fazer de conta que votamos."
Por Mário Crespo (programa de entrevistas de segunda-feira à noite na SIC)